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A condição de ilegalidade nos bairros espontâneos da cidade do Mindelo, demonstra a força da ocupação como manifesto do direito à habitação. A partir da minha proximidade a esta realidade, proponho um olhar a partir do interior das casas de lata, através de uma visão sobre as utopias que movem a vida das pessoas. Através da estética do interior das casas de lata, construo um mapeamento das suas referências, como uma espécie de painel do seu mundo – os familiares vivos, mortos, próximos, distantes, as religiões, o desporto, os escapes, as marcas das promessas de políticos em campanha eleitoral, muito do que acumularam durante as suas vidas. A relevância deste mapeamento é visível no questionamento sobre a validade da estética, seu valor simbólico e a compreensão de sua diversidade.

A estética dos painéis remete-nos para o lugar, espontâneo, informal, “ilegal”, mas a dimensão abordada não é a territorial, é a humana. Nestes há uma invisibilidade do sujeito no singular, mas a partir dos vários elementos da composição vai-se conhecendo o sujeito no plural. Na sua diversidade, os painéis funcionam como colagens, em que não há uma interpretação fechada de quem vê, mas sim uma relação com a construção de quem é visto. As pessoas importam-me, e é delas que quero falar.

O poder da autotransformação vem desse contexto representado e é um reflexo da ação coletiva da resiliência. A visibilidade do seu interior também faz parte da utopia.

 

 

 

Catchupa Factory - Novos Fotógrafos

Fotografia. Ângelo Lopes

Curadoria. John Fleetwood e Diogo Bento

Local. São Vicente, Cabo Verde

Data. 2017

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